quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Vazio da Peregrinação

Óleo sobre tela de  Joéliton Barros Nascimento


              Cada parte do meu corpo tolhe-me a alma;
              Todo desejo da alma frustra-me em viver,
              Cada conflito espectro-matéria tende a ver
              A pobre angústia que nunca nos dá calma.

              A alma almeja navegar sem nunca prever
              A barreira de um corpo traído pelas espaldas
              Que, por existir, é como uma colina sem falda
              Em busca de um apoio para em se poder crer.

              Assim, buscando para a vida alguma causa,
              O homem navega pelo oceano adentro
              Para na vida encontrar algo que lhe salva.

              Porém, a salvação é encontrada no momento
              Em que a tortuosa peregrinação corpo-alma
              Aceita a angústia como algo eterno e extenso.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Tragédia Náutica da Noite e do Dia.




          O caminhar da vida é sempre noite, nunca dia. Nas trevas da noite é que as dúvidas emergem nas ondas do destino, obrigando-nos a lutar contra a força das águas noturnas. Estas águas é o que chamamos de dúvidas. E a noite é o que chamamos de angústia. São nestas dúvidas, que nadamos contra a nossa angústia, buscando alcançar o consolo de uma praia, a certeza de um porto seguro, o conforto. Mas se alcançarmos o litoral e não formos fortes, o suficiente, para penetrar pela floresta adentro, ficamos estagnados, preso no conforto de uma fronteira de areia que demarca o mistério do novo, a floresta, e as lutas náuticas do passado, o mar. E sentado na areia, de costas ao desafio e de frente às ondas do passado, ficamos a observar, durante o amanhecer, a dança das águas que antes fora subjugada como empecilhos da vida, mas que, na verdade, eram tragédias, ou seja, a própria vida. Até que um dia vem um novo crepúsculo, acompanhado de uma névoa que turva a nossa visão – já não mais enxergamos a trágica dança do passado – e olhamos para trás, é noite, a floresta resplandece um luar de glória, é hora de largar o conforto da praia, já não podemos apenas admirar a glória do passado, é chegado o momento de largarmos a segurança da certeza. Adentremos a floresta, façamos carne o que é apenas verbo, pois o caminhar da vida é sempre noite, nunca dia.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um Peregrino Alucinado


Peregrinando por entre a noite cinzenta
Enxergo no interior da névoa opaca
Um ser estranho, daqueles que escapa
À compreensão do que nos sustenta.

O ser caminhava com algo de prata
E minha razão a isto estava bem atenta,
Pois o brilho daquela espada opulenta
Buscava um novo coração para sua ata.

O meu sustento, a razão, logo pede licença,
E lanço-me de peito aberto à imensidão
Para, assim, o ser marcar a sua presença,

Nas entranhas de meu abominável coração
Que, de idiota, jorra imensas lágrimas e pensa:
O sonho adentrou-me o desejo, que satisfação!